ESTRANHO FRUTO


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Estranho Fruto (Strange Fruit)

Esta canção, originalmente uma poesia criada em 1936 por Abel Meeropol, que também compôs a melodia pouco tempo depois, é sem dúvida um dos mais contundentes libelos que já se escreveu contra a escravidão e o desrespeito ao ser humano.

Eu a ouvi pela primeira vez na televisão, num documentário sobre a cantora Billie Holiday, que a gravou em 1939. Assim que terminei de ouvi-la, deixei de assistir o programa, sentei-me à mesa da sala, puxei papel e caneta e comecei uma busca. Uma extenuante procura por palavras em português que trouxessem para a minha língua o impacto que a letra em inglês me causou. Algumas palavras vieram, o cansaço chegou, e com ele o sono. Durante a noite, acordei algumas vezes e imediatamente minha mente recomeçava a busca, até que o cansaço vencesse de novo. De manhã, quando levantei, voltei à mesa da sala, peguei o papel e a caneta, e retomei a busca. 

Ao final do dia, com um sentimento misto de sucesso e de malogro, cheguei ao meu Estranho Fruto. Incompleto talvez, ou à espera de melhores achados nessa busca infinita da repercussão de significados. Mas, um poema que, se não traduz, como no original, a brutal realidade com palavras e rimas sutis, ao menos me deixou o reconforto de ecoar uma mensagem que o tempo não deve apagar, enquanto não desaparecem no ser humano todas as marcas da desumanidade e do preconceito.

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