YES, NÓS TEMOS BANANA.

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Por um certo tempo, pulei carnaval. Até me perceber um estranho no ninho. Sozinho na multidão do salão. Desde então, venho pulando os dias de carnaval. Da sexta-feira para a quarta-feira de cinzas. Mas, não há como pular a tradição. Passado presente no futuro que acontece a cada momento, o carnaval permanece na memória, nos sons dos passos dos sambistas e da marcha dos ranchos. 

O curso do corso, um cordão umbilical formado por muitos nós nominais. Em ordem numérica, alcançaria facilmente a casa das centenas. Em ordem alfabética, preencheria um fichário de "a" a "z". Começando por Ataulfo e Braguinha. Deste então, fui buscar em Yes, Nós Temos Banana o final de uma Salada de Frutas. Cuja melodia, de Gilberto Mendes, inverte a Lourinha "dos olhos de cristal" do João de Barro. Expediente típico do carnaval: a inversão. E o trocadilho. As segundas intenções, que desvelam, em textos e cantos aparentemente ingênuos, a crítica social, política.

Agora, fora do salão. Do carnaval de rua, sempre preferi os blocos às escolas de samba. Na minha escala de prazer, destas conseguia aguentar uns cinco minutos. Aqueles, não mais do que dez. Curtia um ou outro refrão. As histórias de amor são sempre assim, Colombina, Pierrô e Arlequim. Não era o suficiente para me levar na corrente, de me arrastar para a serpentina humana que se estendia pelas ruas. Como o velho Salu, na esteira do Bola, o bloco carnavalesco do Santos nos asfaltos e paralelepípedos da Vila Belmiro.

O fato é que os rastros ficam no chão, deixam suas marcas. E elas permanecem. Quando menos se espera, elas se revelam em novas posições, em outras ruas, outras esquinas da vida. Do mesmo Salu, percebo anos depois que tinha por vizinhos de sangue habitantes ou moradores de uma compartilhada música caseira santista: Aracy Lima, Paulo e Arismar do Espírito Santo.

Na própria origem do carnaval brasileiro, descubro um português que virou sinônimo de bumbo, o Zé Pereira. Cujo nome, nem que por acaso, faz cair sobre minha cabeça um pequeno fruto da árvore da vida. E ainda que de um remotíssimo ramo, lá das alturas, ou talvez por isso, a projeção desse minúsculo objeto genealógico, de desprezível tamanho e peso,  faz sentir com relevante impacto o beliscão gravitacional de seu vínculo.

E, na testa, canta o galo de Lamartine: Cocococococoró, cocococococoró, o galo tem saudade da galinha garnizé.

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